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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Arte + ofício = artifício

Hoje foi o último teste que eu fiz em toda a minha vida. A emoção é grande, pode apostar. Ainda tenho algumas longas provas pela frente, além, é claro, do PAS e do vestibular (deusmelivre, literalmente).
A única que eu vou escapar é a de Artes, por causa do projeto de arte Contemporânea, que também é um probleminha pra mim. É que eu, ingêneua que só, achava que arte era arte e ponto. Se fosse esteticamente bonito ou pelo menos criativo, tava valendo! Pra mim, aquela coisa toda de seguir uma tendência ou de ter de explicar porque você fez tal obra tinha ficado no século passado. Quase todo mundo que vê meu galo-mimado (não que seja uma obra) vem me perguntar "vem cá, por que você desenhou um galo?". Qualé!!! Porque sim, oras!
Tá... o fato é que, pelo visto, não é nada disso. Nesse tal projeto de artes, que eu venho esperando desde o primeiro dia de aula do 3º ano, tinha que fazer um pré-projeto pra professora ficar sabendo o que cada grupo faria. Dias antes da entrega, eu fui falar com a Margarete:
- Professora, eu tava pensando em fazer uma colagem com embalagens! - toda empolgada, é claro, porque eu aposto que alma nenhuma tinha pensado em fazer algo do tipo.
- Tá. Mas qual é a expressividade?
- Como assim?
- Qual é a mensagem que você quer transmitir?
(...) silêncio

- Você queria fazer com que tipo de embalagem?
- De Trident.
- Dá pra você fazer uma colagem em A4, tirar uma foto e colocar alguma mensagem na própria embalagem, pelo photoshop. Uma crítica, talvez... Aí, você manda ampliar.
- Ah! Mas eu tenho muito papelzinho! Não vou precisar ampliar...
- Mas você vai editar?
- Não...
- Hum... E qual é a expressividade?
(...) silêncio
*#$%@#* revolta
. aceitação
- Tá bom. Vou pensar...

Depois que eu pensei uns 3 minutos, me veio à cabeça: "e aquela merda com o mictório que o Duchamp fez que ficou famosérrima? Que merda de expressividade aquilo tem? E as latinhas Campbell do Wahrol? Ou os quadrados insípidos do Mondrian - que me agradam muito, a propósito? E o lustre de ob's que uma doida fez? E aquela célula quebrada*?" Arte é arte e fim de papo! Não teria expressividade nenhuma. Só seria visualmente agradável, assim como a composição do Mondrian e os asteriscos do Miró. Uma obra de arte é pra ser sentida e não decifrada. Um quadro e um poema são diferentes nisso: o primeiro deve ser sentido e depois interpretado. O segundo deve ser interpretado pra ser sentido.
No fim das contas, eu entreguei um pré-projeto tosquíssimo, que vou até apagar da minha mente. Tinha expressividade e objetivo, mas é completamente vazio de sentimento.
Enfim, fiquei revoltadíssima com a repressão da minha criatividade. Eu pensava que a grande vantagem da Arte Contemporânea era não ter que dar satisfações sobre a obra. Deixasse ela ser e só. Talvez eu tenha um pensamento leigo a respeito de arte em geral, mas eu me senti em um neo-academicismo completo com essa história de "tem que ter expressividade".






"Pintura", de Tomie Ohtake. Tirei do meu livro de artes, já que não achei essa preciosidade na internet.
*Essa é a "célula quebrada" à que eu me referi. Não vou nem falar da suposta expressividade pra eu não me irritar. Mas é impressionante: eu sinto uma agonia enorme toda vez que eu vejo essa imagem, desde sempre. Me faz lembrar mal-feito, desequilíbrio, feto, brega, órgão, feio... enfim, célula quebrada.

Um comentário:

Lorena disse...

Feio!
Ahh,Paula,pensei que gostasse das metas do milênio!